Isaías Oliveira, frequentador assíduo do blog, é nosso homem
avançado em Cordovil. Ou Cordobyl, também Chernovil. Sim, comparo o bairro
carioca a Chernobyl.
Em 1970, desastradamente os vermelhos soviéticos construíram em Chernobyl uma usina
nuclear. Em 1910, para meu azar, lotearam Cordovil, começando assim o calvário
populacional naquele canto. Mal sabiam que a vizinhança seria de amargar.
Se em
Chernobyl houve desastre nuclear causado pela barbeiragem de cientistas da
antiga URSS, em Cordovil o desastre é sua existência. Se em Chernobyl era
desnecessária a usina, Cordovil tem dois lados. E a estrada do Porto Velho,
aberta por maus discípulos do prefeito Pereira Passos. Para quê? Onde está
Agache?
Chernovil
– opa! – Cordovil é para mim o que o Brasil era para Ivan Lessa e é para Diogo
Mainardi. O que a Irlanda era para James Joyce. Sei que comparar Cordovil a
Dublin é demais até pra mim. Isaias terá de pesquisar quem são os citados e onde
fica Dublin. Fazer o quê?
Chernobyl
é hoje uma cidade fantasma culpa da radiação lá espalhada. Cordovil é um bairro
fantasma perto da Avenida Brasil – não a novela – e longe da civilização. Fui
lá uma vez. Única vez. Era domingo. Lembro bem do périplo. Soubesse o que sei
agora jamais teria ido. Por pouco não perdi o Flamengo x Vasco, último jogo do
Brasileirão de 2011. Tivesse perdido o jogo, minha chateação com ermo bairro e
patética situação seria ainda maior. Ter estado no cinzento e afastado lugar não
valia nem um Flamengo x Coritiba.
Poucos
entenderão exatamente do que falo aqui. Cordovil neste texto serve como metonímia
– a parte que é o todo – sendo em determinadas vezes metáfora.
Falo de
algo que é particular, personalíssimo. Cordovil, o pior lugar por onde passei,
pior que Costa Barros, pior que Barros Filho, faz parte da minha vida. Infelizmente.
Não pelo câncer causado pela radioatividade. Não pelos cavalos espalhados pela
Estrada do Porto Velho, e sim porque todos os homens um dia serão enganados
fragorosamente por uma mulher. Os de sorte, como eu, conseguirão antever a
enganação. Os de azar já pagam a conta ad eternum. Demorei vinte e seis anos
para tomar meu baque. Baque tomado, lição aprendida. O pior que pode acontecer
agora é me obrigarem a passar de novo em Cordovil. Não vou. Prefiro
Bangu.
13 comentários:
Cara mandou muito no texto me amarrei.Curti e realmente Cordovil é um bairro triste não consigo lembrar de nada bom das poucas vezes q passei por lá hahaha.
Como vc bem sabe esse não é o melhor texto q fiz. Há um que lhe mostrei q considero bem superior. Mais esse me deixou feliz pela correção com a qual relato a situação. Metaforicamente, claro. Sei q poucos entenderão. É realmente uma pena isso.
O texto em vermelho deu o toque final de: PERIGO - NUNCA VÁ A CHERNOVYL
1º VAI PQP...
2º Não preciso pesquisar PORRA nenhuma
3º Lá n é uma maravilha msm, mas Cordovil é dividida em dois lados, o lado que vc foi, realmente é horroroso. Mas pelo q eu lembre, vc foi lá pq era apaixonado pela linda moradora de lá!
Caiu na pilha, Isaías? rs. Como disse no texto Cordovil serviu domo metáfora, metonímia e piada. Vejo que funcionou.....
Já li umas quatro vezes. Que texto bom, puta merda. "Soubesse o que sei agora jamais teria ido." Se soubessemos de tudo, jamais correriamos riscos. Graça nenhuma. A ignorância pode ser obstaculo, descaso ou até preguiça, mas nunca vai ser estática. O que a gente não sabe é que causa arritmia. Assim como ser 'enganado fragorosamente por uma mulher'. E a experiencia em Cordovil - que conheço desde criança e não me nego a voltar porque gosto da minha família - não deve ter sido de todo ruim. Aliás, certamente teve uma parte boa: ir embora.
Já lhe agradeci privadamente o elogio. Torno público. Dica: tira sua família de lá hehehehe. Se puder e se deixarem. Mais: ter ido embora intacto de Chernovil é uma das minhas vitórias.
Já foi em Acari? Aquilo é terra abandonada por Deus. o pior índice de desenvolvimento do Rio de Janeiro. Perto de Acari, que fica bem próximo, Chernovil parece até Angra 1 (não funciona, mas nem é tão feia assim). Adorei a analogia e tive que entrar na onda.
Pensei exatamente em Acari e por isso não malho muito Cordovil. Acari é canto perdido. Alias, não é canto, é silêncio de luto. Uma tristeza.
Não deixam, vida toda por lá. Minha mãe mora na Taquara e até hoje vota em Brás de Pina. Masoquismo é hereditário. De todo modo, sofrer de amor é ageográfico. Se não fosse eu jamais voltaria em Santa Teresa, Botafogo, Vila Isabel, Lapa, Goiânia ou Londres(nitidamente ignoro distancias).
De acari só lembro da música, haha, Feira de Acari rs.
Nem preciso dizer o quanto o texto ficou sensacional.
Laís sabe exatamente do que falo, né. Fico feliz que tenha gostado do texto. O outro que fiz, aquele que acho o melhor que escrevi, ainda estou pensando se publico ou não.
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