terça-feira, 20 de novembro de 2012

Ensaios sobre a Consciência Negra


Em breves linhas ofereceremos dois modos distintos de se enxergar o dia da Consciência Negra. Um meu e outro do Lucas. Valerá a discussão!

 Cotas não!
Por Gabriel Amaral. 

Já faz tempo abolimos da vida em sociedade o pensamento leviano da superioridade de raças. Já faz tempo abolimos dos corações e das mentes sensatas a praga do preconceito. Passou da hora, portanto, de darmos as mesmas condições de ascensão social para brancos e negros, mulatos e índios, pardos e mamelucos.

Não sendo afagados pela sorte, todos nós temos uma só chance de crescermos: a educação/escolarização. Para tanto, cá em Terra Brasilis, achou-se por bem copiar a má ideia estrangeira: as cotas raciais para admissão no ensino superior.

Não faz sentido impor admissões raciais num universo onde as universidades públicas tidas como boas não são boas no âmbito mundial, visto que infectadas por maus professores versados muito mais em conversão política dos seus alunos do que em ensiná-los pronomes e equações. Não faz sentido impor admissões raciais se o ensino médio não é alcançado por uma parte maior do que o aceitável dos adolescentes. E o que dizer dos que chegam lá e são porcamente preparados para a vida acadêmica?
 Não faz sentido impor admissões raciais se as escolas públicas e particulares permitem que crianças saiam de lá sem saber ler ou escrever propriamente. Analfabetos funcionais. No caso da pública é falta de decoro do poder público com seus cidadãos e contribuintes, que é bem da verdade também não desempenham seu papel como deveriam. No caso da particular é a maldade da busca incessante do lucro pelo lucro.

Somos todos – sem distinções raciais – afetados pelo descalabro da situação educacional do país. Precisamos é de reforma educacional. Não de cotas! Precisamos nos livrar do método Paulo Freire de alienação. Não de cotas! Precisamos lutar para que todos sejam contemplados como manda a constituição com educação de alta qualidade. Não de cotas! Precisamos parar de inventar supostas proteções a supostas minorias – que eu sabia mais pessoas são pardas ou negras no Brasil que brancas – Não de cotas!

Eu, declarado em certidão pardo claro sou negro, mameluco, branco e índio, por isso clamo: precisamos fazer de todos iguais. Abaixo as cotas! 


Eu digo não. Quem mais diz não comigo? 

Preconceito, ai! Nunca mais! 
Por Lucas Farias.

Qualquer historiador ou cidadão brasileiro sabe (ou deveria saber) que a população brasileira está sustentada em três pilares étnicos: o caucasiano, oriundo da Europa, o indígena, que já se encontrava aqui na América e o negro, trazido à força do continente africano. Essa divisão em raças já é algo racista, mas estou querendo apenas facilitar a explicação do meu ponto. Dessa mistura, ‘surgiram’ os brasileiros, provavelmente, um dos povos mais miscigenados de todo mundo. Motivo de orgulho para muitos, e motivo de preconceito para muitos outros.

De escravo a segregado, de ‘sem alma’ a rejeitado, a raça negra veio e vem conquistando, com muita luta e suor, o seu espaço na sociedade e espalhando sua linda e rica cultura pelo nosso país, ajudando a montar a nossa própria cultura. Logicamente, o preconceito não acabou e infelizmente, está longe de se extinguir. O negro brasileiro convive com o pior tipo de preconceito: O OCULTO. Somos conhecidos por ser um país sem preconceitos, acolhedor de todo tipo de raça e credo, contudo, não é isso que observamos. A sociedade brasileira é muito preconceituosa e isso se dá por trás dos panos.

O racismo se mostra cada vez mais presente e casos de discriminação são cada vez mais vistos num país que é a ‘cara da pluralidade’ e deveria ser exemplo de comportamento para os muitos outros países racistas. Quando falo ‘países racistas’ não pretendo generalizar, mas existem lugares onde o preconceito já está entranhado na sociedade. Só lembrarmos-nos dos campeonatos de futebol da Europa e das inúmeras queixas e denúncias feitas anualmente por jogadores negros contra as torcidas racistas. Diferente do Morgan Freeman e de um monte de alienado, eu acho que o racismo deve ser discutido e debatido sim. Até que as pessoas vejam que estão equivocadas em suas ideias preconceituosas.

Outro caso recorrente no país é o desrespeito com as religiões afro. A umbanda, o candomblé e muitas outras religiões não tem seu devido respeito perante as outras pessoas, e muitos adeptos de outras religiões discriminam seus símbolos e templos, com xingamentos, ofensas e até depredações. Se somos por lei um país laico, todas as religiões devem ser vistas e respeitadas como iguais.

Não há nada no mundo pior que o preconceito. Aproveitando o dia, uma conscientização deve ser feita, pois a nossa mentalidade continua patética em relação as diferenças raciais. Dou como exemplo, o fato de poucos saberem qual feriado estamos comemorando e também a falta de uma campanha para que a cultura negra seja exaltada. Sim, eu acho que deve ser obrigatório o estudo dessa cultura tão bonita. O preconceito deve ser terminado, para assim podermos viver numa sociedade ideal, sonhada por negros, brancos, pardos, índios, ou seja, pelos brasileiros.


8 comentários:

Mia disse...

Gabriel: voce é o louco mais louco que eu conheço e que consegue fazer mais sentido que muita gente com alta medica. O preconceito é intrinseco a qualquer ser humano, mas existe uma linha que o separa de formador pra desconstrutor. Até o momento que só serve pra definir pontos da personalidade (estabelecer gostos é preconceito com tudo que neles nao cabem), existe validade. O problema é quando passa a ferir outrem. E ISSO AINDA EXISTE. Estamos longe de termos abolido "da vida em sociedade o pensamento leviano da superioridade de raças". A propria noçao de preconceito racial é discriminatoria, porque o conceito de raça perde sua natureza cientifica e passa a ser social. Historicamente, foi usado pra perpetuar a submissão pelos regimes coloniais e pelo Apartheid.
Fora isso, concordo contigo. Sou terminantemente contras cotas pra negros, morenos, filhos de militares e quaisquer outras que não tenham um fundo logico pra existirem. No dia que me provarem que a taxa de melanina afeta as faculdades mentais e a capacidade de absorção informacional, talvez eu mude de ideia. E sigo com meu comentário do ser branca de papel passado, me achar amarela e preferir ser uma zebra.

Quanto ao texto do Lucas, é fato que se dá muito mais por debaixo dos panos, até por - felizmente - existir maior debate sobre. Imagino que isso garanta certa sensatez as proximas gerações, porque o preconceito não é criado, mas absorvido.
E a cultura negra não precisa ser exaltada, porque a grande questão é não enobrecer a nada nem ninguem, mas sim ser melhor disseminada, de modo igual à europeia, latina ou qualquer outra.

Ótima discussão, pessoal. Vou ficar aqui pra ler os comentários. Beijo.

Rodrigo Diniz disse...

A discussão das cotas é algo que vem me chamando a atenção a algum tempo, porém, apesar do interesse nunca fiz uma pesquisa mais a fundo sobre o tema, apesar de já de imediato ser terminantemente contra a cota racial, porém observei que a grande parte dos veículos de comunicação foram completamente tendenciosos no sentido de serem contrario as cotas, digo isso, por que somente depois de regulamentada a lei é que fiquei sabendo que as cotas raciais fazem parte das medidas das cotas sociais, das quais eu sou completamente a favor. O que diz a lei, a lei diz que todas as universidades publicas federais e institutos técnicos deverão reservar 50% de suas vagas a aluno que tenham cursado todo o ensino médio na escola pública, veja bem até aqui, nenhum critério racial foi usado, é somente o governo, admitindo publicamente que os alunos oriundos das escolas públicas de ensino médio de todo o país não possuem condição de disputar em pé de igualdade com os alunos da rede privada de ensino, o que é um fato, pois bem, seguindo, desses 50% reservados, metade ou seja, 25% deverá ser preenchido por estudantes de famílias com renda igual ou inferior a um salário minimo o equivalente a 933 reais, ou seja, da metade das vagas, outra metade deverá ser destinada a aqueles que vieram da escola pública e não possuem condições financeiras, novamente acertado, na minha opinião, até aqui o debate se polemiza no sentido de que, as universidades que possuem um nível de excelência teriam muita dificuldade em lhe dar com o volume de alunos despreparados tanto na formação básica, quanto na formação secundária, baixando assim os critérios de avaliação, até aqui a discussão não é racial, porém a lei de cotas raciais está atrelada a lei das cotas sociais, pois dos 25% reservados aos estudantes oriundos da rede publica e mais pobres, aqueles que se autodeclararem negros, terão uma participação maior nesses 25%, sendo diferenciado para cada estado o quanto desses 25% são reservados de forma racial, obedecendo a o Sensu 2010, ou seja, estados que possuem uma população negra maior, terá uma maior cota dentro dos 25%, aqui a discussão se torna racial, pois a discussão proposta é de que se existem diferenças no tratamento dispensado a negros e brancos pobres, e sinceramente eu acho que há sim essa diferença.

Anônimo disse...

concordo plenamente a opinião do lucas sobre a questão do preconceito que nosso caso é oculto. e a do Gabriel também achei interessante sobre as cotas que é algo que eu sou contra e que a nossa educação devia ser mais valorizada.
parabéns pela discussão achei muito boa

Thamilles Costa disse...

Não vou comentar nada. Motivo: Processos fazem a gente perder bastante tempo.

Unknown disse...

MEU DEUS!!!!!!!!!
Você já foi processada? Que vergonha cara! hahaha

Gabriel Amaral disse...

Houve controvérsia entre os médicos sobre a minha alta. Só fui liberado depois de ter prometido não fazer o que venho fazendo no blog, ou seja, opinar sobre tudo. Que ainda há preconceito, claro que sei. Vejo-o diariamente. Quando fiz a construção citada por você, falo, na verdade comparo momentos históricos nos quais era aceito, até no meio mais intelectual como fato que negros ou índios e até mesmo asiáticos eram inferiores aos brancos. A Inglaterra de Kipling, por exemplo, era assim. Hoje não mais é aceito na sociedade tal visão. Falo do coletivo. Indivíduos são livres para terem seus preconceitos ao leo, mas não serão acolhidos como se certos estivessem pela maioria, mesmo que aquela tal maioria tenha o mesmo preconceito daquele indivíduo. Sempre acreditei que "crescer é ter direito a preconceitos". Todos nós temos um.

Gabriel Amaral disse...

A melhor resposta que posso lhe oferecer vale por ser minha visão de como acertar sem macaquear a má ideia alheia.
Sabedores que não consertaremos, mesmo com boa vontade política e da sociedade, as mazelas do ensino nacional em 10, 20 anos, de certo temos que oferecer aos impossibilitados de várias ordens o acesso ao ensino superior. Sendo assim, ao invés de definir cotas raciais, que se faça cotas sociais. Não que eu seja favorável. Mas elas fazem mais sentido. Não as raciais sob hipótese ou mascara alguma.

Daniel Duque disse...

Não tenho opinião formada sobre cotas, mas um questionamento é importante:

Você é à favor do direito de herança?

Se sim, você deve entender que a grande maioria dos brancos é herdeira distante dos fazendeiros coloniais que se aproveitaram da mão de obra escrava.

Deve entender também que a grande maioria dos negros é herdeira distante dos escravos que, mesmo ao serem libertos, se viram sem nada.