Triste pra mim e pros que me cercam que pense assim.
Terça-Feira. Zapeio pelos canais. Programa do Datena, na Band. Uma senhora e seu marido, ambos na casa dos 50 anos, choram. Captam minha atenção. A senhora, a mais abalada, clama por justiça. Seu filho foi esfaqueado no final do ano passado pelo dono de um restaurante no Guarujá, litoral paulista. Motivo: R$ 7,00. Sim, você leu direito, R$ 7,00.
A mãe da vítima, tadinha, disse que quer, terá e verá justiça. Não vai. Dói, mas é a verdade.
Vamos lá: No cenário nº 1, como os acusados pelo crime, pai e filho são réus primários com residência fixa, estabelecimento comercial próprio, se apresentaram voluntariamente, prestaram depoimento, foram liberados, mas não fugiram e cumpriram sem resistir a prisão, quando expedido o mandado de prisão preventiva, não será difícil um advogado chinfrim porta de cadeia fazê-los responder o processo em liberdade. Sabem como é, né? As cadeias estão cheias e os assassinos, no fundo, são cidadãos de bem. Nasceram bons. Nas palavras do assassino: "Só queria furar um pouquinho".
No parecer de soltura expedido pelo juiz estará escrito que os acusados não representam perigo para a sociedade, assim como estava escrito no parecer de soltura do animal que assassinou recentemente uma grávida, também em São Paulo. O marginal teve direito a 2ª chance. No seu caso a 19ª. A vítima não. Essa morre mesmo. Sem direitos humanos e sem amparo de ONG.
Ser desprezível que matou esta jovem grávida por nada
No cenário nº 2, seguindo o raciocínio estabelecido no nº 1, soltos, eles fugirão para algum recanto escondido no interior do país. No cenário nº 3, fugirão para o exterior.
No cenário nº 4, um bom cenário para a família da vítima, sobretudo pra aquela mãe, os assassinos responderão pelo crime presos. Como são os provedores do lar, o Estado se encarregará de pagar-lhes bolsa-preso, beneficiando a família dos réus. Família de preso não pode passar dificuldades! Seria desumano! Além disso, há os gastos oficiais com o sistema carcerário, ou seja, o cenário nº 4 pode abrandar a família do esfaqueado, mas é péssimo para os contribuintes. Principalmente os contribuintes que ainda não cometeram crime algum. Ainda. No Bostil, no atual ritmo, cedo ou tarde todos seremos assassinos. Ou assassinados.
No cenário nº 5, o mais provável, os acusados respondendo o processo em liberdade ou não, apostarão tudo na morosidade da Justiça, nas várias instâncias a se recorrer. Serão julgados por juri popular e considerados culpados. O pai, estimo, pegará 23 anos. O filho, 12. A partir de então, se forem espertos, pedirão a justiça autorização para estudar à distância, o que pode diminuir a pena. Com bom comportamento, se já não forem agora, se converterão a religião neo-pentecostal (respeito todas as religiões, embora ateu, mas como confiar numa vertente religiosa que existe a menos tempo que Arsenal ou o Flamengo?).
Pelas minhas contas arbitrárias, 5 anos após serem condenados, os assassinos estarão livres.
Aquela mãe passará vários e vários Natais, aniversários do filho, olhando uma foto na estante, daquele que foi esfaqueado como gado bovino num restaurante beira de estrada, por causa de sete pila. Ela e sua família, com toda certeza, não mais passarão naquela estrada. Estarão emocionalmente cerceados. Caso vençam a dor, ainda assim, não será recomendável que passem por lá. Poderão dar de cara com os algozes. Vivos. E soltos. A isto, cá no Bostil, cá na Banânia, apelidamos de justiça.
Pai e filho. Homicidas.
Esfaqueados, crianças estupradas, mulheres estupradas, adolescentes homicidas, grávidas executadas, policiais sendo caçados, policiais caçando, policiais corruptos, políticos que se orgulham de nutrir amizade com presidiários, políticos larápios. São as velhas conhecidas notícias e dissabores que este arremedo de arcanjo mensageiro tem pra vocês.
Discutir a redução da maioridade penal? Não vamos. Discutir a viabilidade da pena de morte? Não vamos. Forçar a classe política a reformar o Código Penal, ou a Constituição? Não vamos.
No Bostil matamos e morremos mais que no Iraque, mais que no Afeganistão. Como não imaginar que o cenário não vá piorar? Como acreditar que haverá justiça?
11 comentários:
Ótimo texto. Passou muito bem oque eu mesma penso, e a maneira como vejo a realidade do nosso país.
Eu não sou a favor da pena de morte, não sou a favor de diminuir a idade penal, não sou a favor de prisões lotadas, tbm não sou a favor dos Direitos Humanos. Sou a favor da Lei de Talião, é a Lei da Pena, vc paga na minucia do que fez, Olho por Olho, dente por dente, e todos terminaremos cegos e banguelas, mas honrando o sangue de nosso entes queridos.
Roubou? Perde a mão!
Estuprou? Pena, eunuco!
Matou? Morre, da mesma forma que matou.
Simples, o Estado economiza uma grana, e nos sentiríamos mais seguros, protegidos e vingados! Bandido bom é bandido morto.
É ESSE BRASIL QUE VIVEMOS...
UM COMEÇO SERIA... REFORMA LEGISLATIVA, JÁ NOS AJUDARIA E MUITO!!!
PORÉM, CREIO EU QUE NÃO AJUDARIA OUTRAS PESSOAS QUE IRIAM SE PREJUDICAR COM NOVAS LEIS MAIS DURAS E COM MENOS BRECHAS, ENTÃO CONTINUAMOS ASSIM....
Hoje no Brasil, esse cenário discursado pelo amigo Gabriel, infelizmente é real, e muito real. Medidas imediatas são muito necessárias na atual situação do povo, porém, não o bastante. Não se trata de reforma e sim, revolução. E isso não tem caráter utópico, é real e bem possível. Falar em constituição, em medidas judiciárias é de extrema importância, mas a necessidade está no sistema capitalista. Enquanto o dinheiro for o Deus do povo, este vai continuar se escravizando enriquecendo mais ainda seus "deuses" trabalhistas. Precisamos de gente de coragem com ânsia de justiça, igualdade e fraternidade. Esse é o caminha para a transformação da sociedade.
Cara o texto ta muito bem escrito e concordo com tudo que esta descrito nele e como vc mesmo me disse eu sofri isso na própria pele com o assassinato do meu pai e digo que é algo muito ruim ver a impunidade que nos assola, mas acho que não podemos perder a esperança de que um dia esse cenário critico ira mudar...
Valquiria, minha querida!!! Bom te ter por aqui. É, a lei de Talião jamais será aplicada em Terra Brasilis. Somos um país laico, uauahuaha... A minha questão, melhor, minha opção a favor da pena de morte que você citou vai muito em direção da economia que o Estado faria sem ter certos presos sob sua tutela. Não acho que pena de morte vá diminuir a criminalidade e nem a ocorrência de crimes brutais. Do mesmo jeito, não acho que vá confortar a família das vítimas. Quem acha isso está enganado. Mas a pena de morte instituída desoneraria o contribuinte um tantinho, não é mesmo?
Reforma do Legislativo. Mais utópico do implantar o comunismo nos E.U.A! Essa cambada que nos governa nunca, em tempo algum legislaria contra si próprios. Se um dia, votarem qualquer reforma nesse sentido, tenha certeza, será em prol deles, e não de nós, cidadãos comuns. De resto, podemos nos matar a vontade...
Abraços, Hugo. Venha sempre!
Marcos, no meu entender, qualquer ideário que apele a revolução, no Brasil, é utópico. Não que isto seja ruim. O dinheiro não é o Deus do povo, Marcos. A busca por vida melhor, sim é seu guia e, só se chega até ela ascendendo financeiramente. Não sendo o capitalismo o meio propício para a ascensão, não haveria nenhum outro. Todo e qualquer indivíduo que lhe prometa sociedade igualitária mente desavergonhadamente. Não há essa chance. Há sim, a chance de diminuirmos a desigualdade, mas ela, e preste atenção no digo agora, faz tempo, é atriz secundária em vários dos crimes bárbaros que narrei no texto e outros que aconteceram e acontecerão no país. Em suma, o que acabo de lhe dizer é que a sensação de impunidade é a real força motriz por trás do sujeito que atira numa grávida sem roubá-la. Entendeu? Sociedades se transformam quando todos os seus cidadãos, sem exceção são obrigados a cumprir as leis - leis que aqui precisam ser mudadas, refeitas, revistas, como quiser - não interessando quem sejam e o que possuem. Sem isso, o resto ou é ditadura sanguinária, como em Cuba ou como na antiga União Soviética, ou democracia capenga, como no Brasil.
Abraços, e venha sempre!
É sempre bom que alguém ainda não tenha perdido as esperanças, ainda mais quando esse alguém sofreu pele as marcas da violência. Por sorte ainda não sofri no âmbito familiar a tragédia que devasta várias famílias brasileiras. Nem quero experimentar tal sensação. Perdi amigos. Já me é o suficiente pra ser um pessimista-fatalista. Mas sei que essa é mais uma das várias falhas que tenho, que todos tem. Pelo menos não sou um homicida confesso solto por ai...
Abraços, Madimbú
Gabriel, parabéns pelo EXCELENTE texto. Retrata muito bem Brasil, nao aquele do carnaval, mulatas e futebol, mas o país da injustiça, aquele no qual os poderosos sao tao bonzinhos que conseguem dormir em paz mesmo sendo responsaveis pelos males de milhoes de pessoas. Viva a justiça brasileira!
Obrigado, muito obrigado Natália. Tentei com o texto deixar claro como me sinto, como vejo outros se sentirem com o Brasil real - que tomei a liberdade de chamar de Bostil - é penoso que a situação esteja em estado tão degradado. Você ter vindo até o Blog, lido e gostado me felicitou demais. Até que enfim uma felicidade!!! Bjs e venha sempre!
Bom dia Gabriel.
É. Você está correto o texto todo, só não em assistir Datena. rs.
Como uma das pessoas que comentou sou otimista. Espero sim que isto melhore. Seja pela pena de morte ou pela privatização das cadeias ou pelo medo, espero que melhore. Acho sim que a pena de morte além de aliviar o contribuinte, diminuiria as taxas de homicídios.
Porque? Porque quem tem cú tem medo. Os bandidos pensariam pelo menos uma vez antes de atirar. Claro que teríamos assassinatos mas teríamos menos.
Att,
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