sábado, 13 de abril de 2013

Vale de lágrimas

Deppmam está morto. Um desavisado pode imaginar que se trata de algum líder político estrangeiro recém-falecido. Não. Victor Hugo Deppman, no Bostil, é apenas estatística. Mais um entre 50 mil assassinados por ano.


Deppman era estudante universitário. Podia fazer parte da tão odiada elite ou não. Podia ser de esquerda ou de direita. Podia ser bom sujeito ou má pessoa. Quem o matou não se importou com tais detalhes.

O assassino foi um “de menor", que ontem (12), completou 18 anos. Para roubar o celular e outros pertences da vítima, achou por bem dar-lhe um tiro na testa. Nesse momento não fez diferença se Deppman era um daqueles que vivia a denunciar as mazelas dos pobres do Bostil.

Algoz e vítima. Um armado e outro desarmado. Quando a sociedade passa a proteger o que está armado é óbvio que é questão de tempo até todos sermos ou assassinos ou assassinados.
Realmente, roubar alguém que agoniza no chão é mais fácil. De menor 1x0 sociedade. Realmente, a melhor idade para se tirar vidas é antes dos 18 anos. Na dúvida, o algoz de Deppman que até ali tinha ficha criminal por roubo decidiu estrear na categoria homicida, antes que sua licença para matar fosse revogada. De menor 2x0 sociedade.


                          


Para o assassino confesso há o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) que o protege. Sendo esperto, como a pena máxima para o delito que cometeu ainda sob proteção do ECA é de 3 anos, dará para o homicida estar pelas ruas em 2 anos. Para a família da vítima sobrará a sensação de impunidade, a dor da perda. Um vale de lágrimas. Vãs.

Vãs porque no Bostil se aceita a morte dos abastados como se fosse dano colateral de uma inventada luta de classes. Vãs porque no Bostil fez-se da boa vontade com a bandidagem um método.

A sociedade bostineira – com o perdão da palavra – odeia a polícia e venera o traficante.  Odeia a lei e a ordem e regozija o jeitinho brasileiro... De burlar leis.  Ama a ignorância e nutre ojeriza pelo conhecimento.  Odeiam ricos e a classe média, como se todos não prestassem. Amam os pobres, como se todos fossem da melhor qualidade.

Deppman perdeu. Sua família perdeu. Eu perdi. Você pode perder. O Bostil não perde nunca. Nascer, viver, matar e morrer no Bostil. 
Victor Hugo Deppman 



Vale de lágrimas II



Na quarta-feira (10), fui informado que naquela madrugada, Léo, um dos grandes amigos que tenho, daquelas amizades certeiras,  perdeu para a leucemia seu sobrinho, Lucas Gomes de Azevedo Cocco, então com 9 anos. Há 6 anos diagnosticado, Lucas lutou bravamente e, pelo o que vi, sempre que possível com sorriso e felicidade genuínas, reações que só os grandes cultivam em horas como aquelas. Mandamos Lucas Farias, Gustavo e eu abraço fraternal não só ao Léo como aos pais de Lucas e a sua avó, esperando que a perda devastadora seja abrandada de alguma forma pela amizade e carinho dos que os cercam. Adeus, Lucas! Mas jamais até nunca mais!




5 comentários:

Michele disse...

Jurava que você iria começar a defender o porte de armas, rs. Amei aquela homenagem ao Nascer, Viver e Morrer na Grécia Antiga. Agora, quanto ao tema abordado:
Realmente não tinha conhecimento da notícia, tanto que antes de ler fui pesquisar sobre. Uma forma de comprovação de que o assassino estava "rindo" da constituição foi quando ele se entregou, sabendo que iria sair ileso. Realmente, bandido é bandido, não importa a idade. Infelizmente, casos assim cairão no esquecimento em menos de uma semana. Só quem sofre são os familiares e amigos. "Victor Hugo Deppman [...] é apenas estatística." Concordo plenamente, esse cara vai virar só "um número". Concordo com quase tudo o que você disse, só acho que poderia ser mais respeitoso. Como já disse anteriormente, eu amo o Brasil, e não gosto de ver ninguém xingando ele, rs.

PS: Eu gosto do Brasil, os brasileiros que estragam. Assim como o mundo. O mundo é lindo, o ser humano é que estraga. :(

Michele disse...

"Vãs porque no Bostil se aceita a morte dos abastados como de fosse dano colateral de uma inventada luta de classes. Vãs porque no Bostil fez-se da boa vontade com a bandidagem um método. [...] odeia a polícia e venera o traficante. Odeia a lei e a ordem e regozija o jeitinho brasileiro... De burlar leis. Ama a ignorância e nutre ojeriza pelo conhecimento. Odeiam ricos e a classe média, como se todos não prestassem. Amam os pobres, como se todos fossem da melhor qualidade." Isso ocorre tanto. É tanta hipocrisia, pessoas tentando dar lição de moral quando realmente não as cumpre, finge que não vê. A sociedade brasileira é um lixo. Digo, ela poderia ser boa, se realmente quisesse. Mas ela não quer, ela prefere perder tempo com BBB e novela, ela prefere simplesmente ignorar. Eu sou super a favor das pessoas que FINALMENTE estão começando a fazer protestos, a sair. Acho que deveria ocorrer mais, sempre mais! Enfim, me chame do que quiser, mas eu ainda acredito um pouco da humanidade, rs. Sei que temos tudo pra dar certo e evoluir. É só querer. :(

Gabriel Amaral disse...

Michele, minha querida, é claro que vc pode amar o Brasil. Gostaria de pensar como vc. Não consigo, repito. De resto, tudo o que vc colocou vai de encontro com o que penso.

PS: sou a favor não só do porte de armas, como da pena de morte, do contrário não seria o reaça que todos amam na Veiga.. Bjs

Leo Prestho disse...

Gostaria de agradecer publicamente a carinhosa mensagem "Vale de Lágrimas II". Belas palavras, puros e sinceros sentimentos contidos nelas. três amigos que carrego em meu coração. Se me permitem deixo trecho de um poema de Chico Buarque de Hollanda, que eu gostava, e que nunca imaginei que fosse fazer parte de minha realidade...

"Oh, pedaço de mim
Oh, metade arrancada de mim
Leva o vulto teu
Que a saudade é o revés de um parto
A saudade é arrumar o quarto
Do filho que já morreu"

Saudações a todos,
Passar Bem!

Gabriel Amaral disse...

Falo por todos - e nesse todos incluo Bibi, Zé, Grazi, Fernanda e tantas outras pessoas que lhe querem bem - ao dizer que seu agradecimento e o poema do Chico, extremamente feliz ao exprimir sentimentos únicos, são tradução da amizade que se reforça a cada dia e que fará do destino, de acontecimentos indesejados, impensados, como a morte precoce o é, e de acontecimentos fortuitos, fortaleza e cumplicidade. Conte conosco! Abraços Fraternais!