quinta-feira, 16 de janeiro de 2014

Todos os otário do Brasil II. ou: dando um "rolezinho"

Começo com uma confissão: ainda não sei ao certo o que são os "rolezinhos". 
Pior foi descobrir que existe a versão rica disso, o tal do tal flash mob. Fui procurar a descrição/significado de mais essa invenção contemporânea. Flash mob, leitor, é a aglomeração de cretinos, sempre dançando aparvalhadamente, um espécie de Glee da vida real. Assisti só hoje um vídeo de um flash mob, e olha que isso existe faz tempo. É que certas coisas me nego a ver. Vi. Não me lembro de ter visto nada tão ridículo. 
Flash Mob 

Pois não é que os "rolezinhos" foram inspirados nessa baboseira de flash mob?!
De início, se entendi direito, pobres, na sua maioria negros e favelados de São Paulo, onde parece que esta coisa cresceu, almejavam entrar em shoppings, dançarem seu funk - o que pra eles é a música do gueto, a manifestação cultural dos excluídos - assim como os ricos dançam sei lá o que nos shoppings.  

A escolha de shoppings como principal point para a turma rolezista tem um significado. Os shoppings seriam a expressão máxima da opressão da classe média sobre os pobres. Seria o local onde ricos e a classe média podem dançar e comer meleca sob olhares complacentes. Pobres, não. A eles só a condenação e a humilhação. Uma mentira influente. 

Nos shoppings de todo o mundo ricos, pobres e a classe média andam juntos num compasso inesperado de normalidade. Quem diz o contrário além de mentiroso é otário. Esse é um país de otários. Tanto é assim que, para infelicidade total dos intelectuais amantes da pobretagem galopante, os "rolezinhos" são apenas decalques dos flash mobs. Pessoas que pouco tem imitando o pior dos que tem muito para aplausos de quem lucra muito por defender o direito dos pobre de continuarem na pobreza. Um círculo vicioso com coreografia. 

Só que a coisa já se perdeu. Degringolou. 

Li na Folha de São Paulo uma descrição de como se veste um (a) "rolezista", com o perdão do termo! Vejam: 
O visual do rapaz pobre e favelado da periferia pode chegar aos R$ 1 mil. O da menina, bem mais em conta, passa dos R$ 200,00. É nessas horas que eu quase acredito no governo do poste e caio na esparrela de que os pobres de ontem são a classe média de hoje. Se não são podem andar como se fossem porque quem realmente passa necessidade não pode comprar boné de mais de R$ 100,00. 

E como se não fosse pouco o arremedo, esquerdopatas de matizes diferentes decidiram apoiar os "rolezinhos" como se aquela gente precisasse de verniz ideológico para sua patacoada imitadora. Esses políticos e movimentos sociais sempre querem tirar uma casquinha do que não lhes pertence, mesmo que sejam escorraçados da cena, como ocorreu na manifestações de junho, julho e agosto do ano passado. Uma gente que não aprende a lição! 

E por falar em lição, fica aqui uma para os rolezistas: não imitem o que de pior fazem os abastados. Ao invés de funk, música. Ao invés de corrente de ouro ou de prata, conhecimento. Ao invés de coreografias disformes, Ennio Morricone. Ao invés de Racionais MC's, Lobão. Ao invés de Ferrez, literatura. Ao invés de Paulo Freire, meritocracia. 

Ai sim vocês serão o que e quem quiserem aqui, nos shoppings e nas periferias e centros de todo mundo. O verdadeiro rolê. 



4 comentários:

Daniel Duque disse...

Na verdade, os rolezinhos não foram inspirados nos flash mobs, mas esses últimos foram utilizados como argumento à favor dos primeiros, por mostrar que os ricos fazem sem sofrer repressão.

Os rolezinhos, na origem, começaram com um evento do facebook com esse nome, para marcar com um número considerável de pessoas (algo de 30 a 50) literalmente um passeio pelo shopping. A parada é que o shopping em questão era numa zona rica da cidade de São Paulo. Portanto, assim que chegaram, causaram apreensão e certo grau de histeria por parte dos clientes, o que levou a uma reação dos seguranças e da administração.

A partir daí, os rolezinhos começaram a se multiplicar, mas com caráter doravante político, para desafiar de fato aqueles que antes se sentiam "seguros" nos shoppings. Com isso, foi uma sucessão de quebra-quebra e um verdadeiro caos jurídico para conseguir legitimar a restrição da liberdade de ir e vir. As reações dos mais pobres começaram a ser cada vez mais desafiadoras e, portanto, intimidadoras, a ponto de estarmos mais ou menos onde estamos agora.

Ao meu ver, mais interessante que o rolezinho em si e sua origem, foram as reações da sociedade (de classe média e alta) a esse movimento.

Relembrar é viver: uma coisa parecida já aconteceu aqui no Rio, no shopping Rio Sul, já há alguns anos. Os clientes e lojistas agiram com a mesma histeria, correndo para fora do shopping e fechando as lojas, respectivamente. Mas a principal diferença é que fora mais uma programação de família, com crianças, mães, etc, o que impossibilitou confrontos ou conflitos por parte dos seguranças e da administração local.

Daniel Duque disse...

http://youtu.be/UHJmUPeDYdg

Gabriel Amaral disse...

Confesso que não lembrava do evento de agosto de 2000 retratado no documentário Hiato, que vi do link por ti postado, Daniel. Confesso, agora, que fiquei com pena daquelas pessoas. Foram usadas. São usadas ainda hoje.

Só na cabeça de um celerado é natural a invasão a qualquer espaço tanto faz se público ou privado. Tenho a mais absoluta certeza que causará pânico a quem estiver no recinto, a invasão de numeroso grupo de pessoas da classe média, por exemplo, a quadra da escola de samba dentro de uma comunidade. O desespero vai tomar conta. Uns vão imaginar que a playboyzada decidiu, enfim, tomar a favela. Outros vão achar que a playboyzada decidiu, enfim, acabar com o "problema" de vez.
Os reprimidos do documentário foram perseguidos por policiais, reprimidos por seguranças, destratados por lojistas. Na favela o mais provável é que o tiro coma. Denunciarei o preconceito e morte dos pobres com a classe média a quem?

Mas retomo o meu raciocínio. Aquelas pessoas foram usadas, eu dizia.Não sei dizer quem os usou com exatidão, mas as evidências são claras.
Avisar a imprensa foi uma delas, deixando claro que não te tratou de coisa natural, de manifestação natural. A escolha das pessoas que foram no shopping é outra evidência que dá o tom do preconceito invertido dessa gente que diz lutar por um mundo mais igual: raros eram os brancos entre os "manifestantes". Um E.T que passasse por ali poderia imaginar que na favela só tem negros e desdentados. Nada mais falso em 2000, em 80, em 2014... em qualquer tempo. Quem atesta isso ou nunca foi num morro, numa favela ou é pilantra ideológico.

E, para não me alongar num post só, para ficar com um exemplo desse mau-caratismo ideológico de que lhe falei, fico com Silvio Tendler, aquele que acha que o dinheiro dos pobres, da classe-média e dos ricos tem é que servir mesmo para financiar seus filmes, via Lei Rouanet. Nobre da parte dele seria pagar suas contas e fazer seus filmes sem dinheiro de renuncia fiscal, denunciando a perversão disso, que é óbvia. Mas ele não quer comer pão com mortadela, como os seus "revolucionários". Quer comer camarão, enquanto denuncia seu vizinho capitalista que também come camarão. Mas só um detalhe: o vizinho paga as contas com seu dinheiro, com a riqueza que sua empresa dá. Silvio paga com o dos outros. É a maldade que assume a posição de bondade por conta de conceitos meramente ideológicos. Eu quero que aquela gente possa ir quando quiser ao shopping para consumir, fazendo a economia girar. Quero que eles ouçam Zeca Pagodinho, funk se preferirem, mas que tenham contato com todo tipo de música e ai possam escolher e burilar seu gosto. Os tenlders da vida, no máximo, oferecem batuque e AfroReggae para assim poderem comer camarão e ouvir Chico Buarque em paz.

Robson Filho disse...

http://chuveirodeideias.blogspot.com.br/2014/01/rolezinho-da-ralezinha.html