sábado, 23 de março de 2013

Para os Aquidauanus, com carinho.


A ONG pra qual presto serviço freelancer fez uma tremenda descoberta. Pesquisas em parceria com uns camaradas de Harvard mostraram que uma das ruas mais caras para se viver, no coração da zona sul carioca, de fato e direito é território indígena.

Onde hoje é a Rua Conde Bernadotte, nº 71, Leblon, em 1574 era a morada da tribo dos Aquidauanus.  

É bem verdade e é sabido que os Aquidauanus são distintos dos demais. Estão espalhados pelo Brasil e mundo. Libertos das amarras que os prendiam a conceitos indígenas tidos como ponta de lança de certos preconceitos aos olhos progressistas, os Aquidauanus são tão organizados, mais tão organizados, que todo ano promovem em várias cidades ao redor do mundo as maiores passeatas a seu favor, chamadas de Parada do Orgulho Aquidauanus.
Mesmo assim, nós da Sem Dinheiro Público Não Há Boa Vontade, a nossa ONG, junto ao governo do Estado, batemos o martelo e com o auxílio da CORE, do BOPE e da Guarda Municipal se preciso for, vamos devolver o território na Conde Bernadotte a seus reais donos.

Trata-se de forma velada de vingarmos aqueles pobres índios, estranhamente vários índios brancos, que por pura maldade dos pardos que nos governam foram expulsos do Museu do Índio, localizado num prédio que cai aos pedaços, nos arredores do Maracanã, onde nada funciona desde 1978. Pura Maldade!

Mas parece que teremos problemas para cumprir o destino e despejar os usurpadores. Laura de Mendonça Morais e Carvalho, mais conhecida como Laurinha na PUC, uma das muitas índias brancas que brava e heroicamente lutaram contra as forças pardas de ocupação no Museu do Índio está ultrajada.

Disse ela, que mora na Conde Bernadotte, nº 71: Sou a favor dos índios, acima de tudo dos Aquidauanus, entre os quais tenho vários amigos e amigas. Mas acho forçar a barra quererem desalojar minha família do prédio onde moramos há anos, mais de 50 anos, para alojar índios num solo que supostamente lhes pertence. Minha família tem história aqui tanto quanto os Aquidauanus. Esta tribo em particular, diga-se, tem uma rua toda a seu dispor em Ipanema, a Farme de Amoedo. Por que cargas d’água querem logo a parte da cidade que me pertence? E outra, que porra de ONG é essa?
 Laurinha, a índia branca
Ao lermos Laurinha pela mídia burguesa, aqui na Sem Dinheiro Público Não Há Boa Vontade, ficamos chocados. Sempre achamos que ela seria a nossa musa.
Sem o apoio da Gisele Bündchen do movimento estudantil, apelamos para a classe jornalística. Pensamos nos blogueiros progressistas e procuramos aquele da voz nasalada. Embora receptivo, venal como sempre foi, o baixinho nos disse que neste particular não nos apoiaria, pois seu primo burguês que financia seu blog, para azar dos Aquidauanus, mora na Conde Bernadotte.

Numa tacada só ficamos sem o apoio do movimento estudantil e dos blogueiros progressistas. Nos sobrou correr para os braços da mídia golpista. Em vão. Eles não gostam dos Aquidauanus e vice-versa, muito embora vários dos Aquidauanus façam parte dela.

Ficamos sem chão. Rapidamente perdemos o apoio do governador pardo. Disse ele, no seu português característico: Dane-se esses ai do anus. Não vou brigar com Ricardo de Mendonça e Carvalho III por causa de uns indígenas. Sou pardo, porra!

À primeira vista pareceu aos meus amigos e familiares que meu freela foi fracassado. Besteira. Tivemos na ONG um aumento de 100% nos repasses de verbas públicas da nossa descoberta até o abandono do projeto. Lucramos! Era a nossa intenção.

Para não parecer que largamos os Aquidauanus a ver navios invasores, oferecemos o pagamento completo – dinheiro do contribuinte, claro! – das festividades anuais dos Aquidauanus que sempre acontece em Copacabana. Oferecemos também um casarão no Alto da Boa Vista para o after party – na língua aquidauanense aum la dacula. Eles toparam.

E a melhor das notícias é que nós da ONG fechamos parceria com a Jontex. Sexo seguro para brancos, pardos, negros e índios.

Do Tablet do pajé dos Aquidauanus, o Calvin, consultei quanto havia na minha conta no Bradesco, o banco pardo. Descobri ter mais do que merecia pelo trabalho. Não tive dúvidas. Ali mesmo on line dei entrada num luxuoso apartamento na Conde Bernadotte, nº 71, já que graças ao quiprocó recente os preços baixaram. Calvin fez o mesmo e disse: Gabriel, no Rio os imóveis estão custando o anus da tribo. Essa celeuma veio pra nos ajudar. Laurinha, o governador pardo e oficialmente nós da ONG discordamos. Oficialmente. 
 Calvin, meu amigo e mais uma de suas bugigangas de fazer inveja ao Curupira. 

2 comentários:

Isaias oliveira disse...

Sensacional!!! Muito bom Gabriel

Gabriel Amaral disse...

Obrigado Isaias! Venha sempre.