A ONG pra qual presto serviço freelancer fez uma tremenda descoberta.
Pesquisas em parceria com uns camaradas de Harvard mostraram que uma
das ruas mais caras para se viver, no coração da zona sul carioca, de fato e
direito é território indígena.
Onde hoje é a Rua
Conde Bernadotte, nº 71, Leblon, em 1574 era a morada da tribo dos Aquidauanus.
É bem verdade e é sabido que os Aquidauanus são distintos dos demais. Estão espalhados pelo Brasil e mundo. Libertos das amarras que os prendiam a conceitos indígenas tidos como ponta de lança de certos preconceitos aos olhos progressistas, os Aquidauanus são tão organizados, mais tão organizados, que todo ano promovem em várias cidades ao redor do mundo as maiores passeatas a seu favor, chamadas de Parada do Orgulho Aquidauanus.

Mesmo assim, nós da
Sem Dinheiro Público Não Há Boa Vontade, a nossa ONG, junto ao governo do
Estado, batemos o martelo e com o auxílio da CORE, do BOPE e da Guarda
Municipal se preciso for, vamos devolver o território na Conde Bernadotte a
seus reais donos.
Trata-se de forma
velada de vingarmos aqueles pobres índios, estranhamente vários índios brancos,
que por pura maldade dos pardos que nos governam foram expulsos do Museu do
Índio, localizado num prédio que cai aos pedaços, nos arredores do Maracanã,
onde nada funciona desde 1978. Pura Maldade!
Mas parece que
teremos problemas para cumprir o destino e despejar os usurpadores. Laura de
Mendonça Morais e Carvalho, mais conhecida como Laurinha na PUC, uma das muitas
índias brancas que brava e heroicamente lutaram contra as forças pardas de
ocupação no Museu do Índio está ultrajada.
Disse ela, que mora
na Conde Bernadotte, nº 71: Sou a favor dos índios, acima de tudo dos
Aquidauanus, entre os quais tenho vários amigos e amigas. Mas acho forçar a
barra quererem desalojar minha família do prédio onde moramos há anos, mais de
50 anos, para alojar índios num solo que supostamente lhes pertence. Minha
família tem história aqui tanto quanto os Aquidauanus. Esta tribo em particular,
diga-se, tem uma rua toda a seu dispor em Ipanema, a Farme de Amoedo. Por que
cargas d’água querem logo a parte da cidade que me pertence? E outra, que porra
de ONG é essa?
Ao lermos Laurinha
pela mídia burguesa, aqui na Sem Dinheiro Público Não Há Boa Vontade, ficamos
chocados. Sempre achamos que ela seria a nossa musa.
Sem o apoio da
Gisele Bündchen do movimento estudantil, apelamos para a classe jornalística.
Pensamos nos blogueiros progressistas e procuramos aquele da voz nasalada.
Embora receptivo, venal como sempre foi, o baixinho nos disse que neste
particular não nos apoiaria, pois seu primo burguês que financia seu blog, para
azar dos Aquidauanus, mora na Conde Bernadotte.
Numa tacada só
ficamos sem o apoio do movimento estudantil e dos blogueiros progressistas. Nos
sobrou correr para os braços da mídia golpista. Em vão. Eles não gostam dos
Aquidauanus e vice-versa, muito embora vários dos Aquidauanus façam parte dela.
Ficamos sem chão.
Rapidamente perdemos o apoio do governador pardo. Disse ele, no seu português
característico: Dane-se esses ai do anus. Não vou brigar com Ricardo de
Mendonça e Carvalho III por causa de uns indígenas. Sou pardo, porra!
À primeira vista
pareceu aos meus amigos e familiares que meu freela foi fracassado. Besteira.
Tivemos na ONG um aumento de 100% nos repasses de verbas públicas da nossa
descoberta até o abandono do projeto. Lucramos! Era a nossa intenção.
Para não parecer que
largamos os Aquidauanus a ver navios invasores, oferecemos o pagamento completo
– dinheiro do contribuinte, claro! – das festividades anuais dos Aquidauanus que sempre
acontece em Copacabana. Oferecemos também um casarão no Alto da Boa Vista para
o after party – na língua aquidauanense aum la dacula. Eles toparam.
E a melhor das
notícias é que nós da ONG fechamos parceria com a Jontex. Sexo seguro para
brancos, pardos, negros e índios.
Do Tablet do pajé
dos Aquidauanus, o Calvin, consultei quanto havia na minha conta no Bradesco, o
banco pardo. Descobri ter mais do que merecia pelo trabalho. Não tive dúvidas.
Ali mesmo on line dei entrada num luxuoso apartamento na Conde Bernadotte, nº
71, já que graças ao quiprocó recente os preços baixaram. Calvin fez o mesmo e
disse: Gabriel, no Rio os imóveis estão custando o anus da tribo. Essa celeuma
veio pra nos ajudar. Laurinha, o governador pardo e oficialmente nós da ONG discordamos. Oficialmente.
Calvin, meu amigo e mais uma de suas bugigangas de fazer inveja ao Curupira.
2 comentários:
Sensacional!!! Muito bom Gabriel
Obrigado Isaias! Venha sempre.
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