terça-feira, 24 de setembro de 2013

3 horas na UERJ. Ou: A lógica absurda do mérito6


Che Guevara vive! Che Guevara vive várias vidas na UERJ, não só estampado em camisas pretas, não só estampado em camisas brancas. Che Guevara vive e cursa ciências sociais à noite. Pera lá! Fui injusto. Talvez o comandante curse filosofia.
O Che da UERJ trajava colete verde surrado à moda imitador barato, barba por fazer e mal ajambrada. As feições do rosto denunciavam o ar de gravidade do revolucionário estudantil, como manda o manual dos decalques. Sorte minha que o Che tupiniquim jamais saberá que sou um reacionário filhinho-de-papai da classe-média. Sabendo, poderia querer me fuzilar com seu olhar 43.


O Che da UERJ


Não só Che vive e estuda à noite na UERJ. Sheldon, do seriado The Big Bang Theory, também está por lá. É amigo de Che. Quando o vi, trajava camisa vermelha cheguei estampada por um raio com a inscrição “bazinga". Shledon e Che não podem ser levados a sério no meio acadêmico. Mas são.
Marley – não o cachorro, o Bob – vive, Gabriel? Sim, vive. Ele, D2 e Cheech e Chong, os comediantes da maconha, são mais do que vivos nas universidades públicas brasileiras. São baluartes hidropônicos. Naturais... 

A UERJ é pública, de (in) competência do Estado. Nela pode de um tudo. Pode fumar maconha? Pode, e como! Vale proselitismo político? Vale. À esquerda, claro. Porque à direita é coisa de burguês que dorme de meia.

Onde vale proselitismos os fantasiados são mais do que levados a sério. Constituem movimento estereotipado. Dos Che's do Arpoador ao Sheldon de Campo Grande, dos Karl Marx – ao menos na barba – da Tijuca, as feministas radicais da Lapa, todos pró-Cuba, eles fazem questão de reforçar estereótipos.

As pessoas normais que andam pelo concreto puro que é a UERJ, quem sabe por vergonha, quem sabe por justificada preguiça; mais provável por desgosto, estão sempre com cara de sono, alguns de cabeça baixa para não verem, para não enxergarem a ridicularia que os cerca, tudo em nome do canudo que lhes facilitará o futuro. 

Mas que os normais não se animem! 

No CAHIS – Centro Acadêmico de Historia – há os que querem a revolução. Lançaram manifesto – Olha o Marx ai gente! –  e nele – está escrito com todas as letras: quem está na UERJ apenas atrás da formação é um alienado indigno que serve como carneiro a “lógica absurda do mérito”.  

Só de ter descoberto que há absurdo e lógica no mérito e que essa salada cabe numa única sentença, fez valer as 3 horas que passei na UERJ.

Quando dentro do ambiente estudantil dito de elite se esta a criminalizar o mérito - nunca a maconha, os maconheiros, os comunistas de boutique, etc – sinal que não mais vamos de mal a pior. Agora é pior e avante. Para baixo!



texto do mês de maio de 2013. 

6 comentários:

Unknown disse...

Olha o recalque de que não consegui passar no vestibular da uerj ai genteeee !!!

Gabriel Amaral disse...

Jamais fiz prova para entrar na UERJ, o que não invalida a possibilidade de fazer e passar ou ser reprovado.
Se o diploma da UERJ não lhe garantir um bom emprego ou seja lá o que almeje alcançar, recomendo que você não enverede pela adivinhação. Não é o seu forte, Michael.

Unknown disse...

Um bom texto na parte das figuras que estão na faculdade, mas discordo de muitas coisas e você sabe disso. Ainda mais por que sou aluno.
De resto, a qualidade de sempre tá mantida e você continua um puta reaça!
Abraços, meu querido

Gabriel Amaral disse...

Como sempre elogioso. Sei das discordâncias. Nem por isso há ou haverá briga. Isso é algo que alguns deveriam aprender o quantos antes. Abraço estendido a ti.
ps: nome do seu próximo livro poderia ser um reaça em minha vida. Topa?

Bitter Cruz disse...

O tempo que passei na UERJ, não pude observar detidamente esses tipos, já que cursava ciência da computação, e o pessoal de exatas é mais austero...

Mas sem dúvida que na área de humanas a descrição é perfeitamente compatível com a realidade...

Filipe Injah disse...

antes fosse só na uerj meu amigo... antes fosse